Two Points of View

APME

Vítor Almeida, que esteve na última quarta-feira na comissão parlamentar de Saúde do Parlamento a pedido do Bloco de Esquerda traçou um quadro negro da assistência prestada pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), afirmando que esta entidade de «não cumpre a lei» no transporte de doentes, tem falta de recursos e várias deficiências de organização.

De acordo com o presidente da Associação Portuguesa de Medicina de Emergência (APME), 220 das 270 ambulâncias de transporte de doentes usadas pelo INEM «não cumprem a lei por ausência de equipamento», além de violar também a legislação ao fazer o transporte com dois técnicos de socorro, quando as ambulâncias deviam sempre ter três técnicos.

Vítor Almeida acusou também o INEM de «propaganda», ao sustentar que o instituto tem 95 por cento do país coberto apenas pela rede de ligação do número de emergência 112 e não em meios médicos reais, capazes de assegurar socorro no local no período máximo de 15 minutos após a chamada.

O mapa que o presidente da APME mostrou aos deputados revela que a "âncora", como a designou Vítor Almeida, do INEM - as Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER) -, estão localizadas essencialmente nos grandes centros urbanos e litorais, deixando, por exemplo, todo o Alentejo e o «interior desprotegido».

Questionado pelos deputados sobre as implicações desta
situação no transporte de grávidas - que se prevê aumentar com o encerramento de cinco blocos de partos de maternidades até à data e mais seis até ao final do ano -, o presidente da APME retorquiu que este serviço «pode vir a prejudicar o sistema de emergência médica».

«É dentro de cada hospital [cujo bloco de partos encerrou ou vai encerrar] que se deve encontrar solução» para o transporte das grávidas, frisou o médico.

INEM

O presidente do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) afirmou hoje que um terço das ambulâncias pararia se tivessem de funcionar com três tripulantes, como defende a Associação de Medicina de Emergência, e não dois, como acontece.
Luís Cunha Ribeiro falava perante a Comissão Parlamentar de Saúde, onde se encontrava a pedido do Bloco de Esquerda para esclarecer questões relacionadas com o transporte de doentes.

Na semana passada, a mesma comissão ouviu o presidente da Associação Portuguesa de Medicina de Emergência (APME), Vítor Almeida, que acusou o INEM de ter ambulâncias sem equipamento adequado.

Na altura, Vítor Almeida denunciou que 220 das 270 ambulâncias de transporte de doentes usadas pelo INEM «não cumprem a lei por ausência de equipamento», além de violar também a legislação ao fazer o transporte com dois técnicos de socorro ao invés de três.

Hoje, Luís Cunha Ribeiro assumiu que as ambulâncias do INEM trabalham com dois tripulantes e que, se tivessem de trabalhar com três, um terço ficaria parada por falta de pessoal.

De acordo com o presidente do INEM, não existe nenhum país onde as ambulâncias tenham três tripulantes e Portugal nunca o conseguirá ter, devido à falta de pessoal que quase não chega para manter as ambulâncias em funcionamento com dois tripulantes.

Luís Cunha Ribeiro não hesita em considerar mais útil para «salvar vidas humanas» manter as ambulâncias a funcionar com dois tripulantes, do que deixar inoperacional um terço das disponíveis para assegurar que as restantes tenham três tripulantes.

O presidente do INEM disse que está mais preocupado com as ambulâncias que, por falta de pessoal, circulem com apenas um tripulante, o que se deve à dificuldade em contratar médicos para a emergência médica, que exige um esforço físico incompatível com a idade avançada da maior parte dos profissionais no interior do país.

«Não consigo colocar médicos a trabalhar para o INEM no interior do país porque não há», afirmou.

Sobre as críticas da APME, o presidente do instituto visado disse apenas lamentar que sejam de alguém que, estando dentro do sistema, apenas ataque sem nada propor.

Luís Cunha Ribeiro esclareceu ainda que as ambulâncias do INEM são, actualmente, vocacionadas para o transporte pré-hospitalar. Por esta razão, especificou, os seus tripulantes não podem administrar medicamentos, pois o doente ainda não foi visto por um médico, a quem cabe prescrever fármacos.

Sobre a existência de material de reanimação - como desfibrilhadores automáticos externos, material de acesso venoso, monitor de parâmetros vitais - nos carros do INEM, o seu director clínico, Nelson Pereira, também presente na comissão, esclareceu que este só pode fazer parte de transportes cuja tripulação seja credenciada.

«Como a maior parte das ambulâncias do INEM não é conduzida por médicos, e só estes podem manusear estes equipamentos, não vale a pena estar a equipar viaturas com material que não pode ser usado», disse.

Contudo, e de acordo com Nelson Pereira, o INEM dispõe actualmente de 41 desfibrilhadores automáticos externos e 20 por cento das ocorrências a nível nacional são assistidas por ambulâncias com este equipamento.

Em relação às críticas da APME de que as Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER), que contêm os desfibrilhadores, estão localizadas essencialmente nos grandes centros urbanos e litorais, Nelson Pereira esclareceu que esta é uma opção que visa salvar mais vidas.

«A paragem cardio-respiratória tem uma incidência de um em cada 10 mil habitantes e eu tenho de colocar os aparelhos [desfibrilhadores automáticos externos] onde há mais pessoas, que é também onde é maior a incidência».

Sem comentários: