Foi você que pediu um Porto Ferreira?

- Gota.
- Gota!!??... Fote!
- Fote!!??... Fotu, gota meda!

Em toda a noite o sono não veio




Em toda a noite o sono não veio.
Agora Raia do fundo
Do horizonte, encoberta e fria, a manhã.
Que faço eu no mundo?
Nada que a noite acalme ou levante a aurora,
Coisa séria ou vã.
Com olhos tontos da febre vã da vigília
Vejo com horror
O novo dia trazer-me o mesmo dia do fim
Do mundo e da dor -
Um dia igual aos outros, da eterna família
De serem assim.
Nem o símbolo ao menos vale, a significação
Da manhã que vem
Saindo lenta da própria essência da noite que era,
Para quem
Por tantas vezes ter sempre 'sperado em vão,
Já nada 'spera.

Fernando Pessoa

em suspensão


  • Swingle Singers - Largo / Johann Sebastian Bach
  • 25 de abril


    Esta é a madrugada que eu esperava
    O dia inicial inteiro e limpo
    Onde emergimos da noite e do silêncio
    E livres habitamos a substância do tempo

    Sophia de Mello Breyner Andresen

    "A Canja"

    "A Canja"

    Escandalosamente teu, o teu sabor desnuda-me a alma, faz-me borbulhar de desejos, faz-me pedir-te sem pudores que invadas o meu íntimo, nesta posse de macho e amante provoca os meus gemidos, aguça os meus sentidos e desejos, nesse vai e vem sussurra as palavras que me enlouquecem e deixa no meu corpo a marca do teu "flavour"...
    Sei que é uma fantasia mas agrada-me, excita-me, percebo que te inflamas quando me deito na cama, sinto que me amas com o fogo ardente da paixão...
    Fragilizo-me em teus braços, desperto-me para as "babes", sem perder a força do desejo que me devora, e leva-me a pedir-te, faz-me de mim o que quiseres porque de ti quero ser tudo...quero ser escandalosamente TEU minha Canja !!!

    A ÁGUA

    Meus senhores eu sou a água
    que lava a cara, que lava os olhos
    que lava a rata e os entrefolhos
    que lava a nabiça e os agriões
    que lava a piça e os colhões
    que lava as damas e o que está vago
    pois lava as mamas e por onde cago.

    Meus senhores aqui está a água
    que rega a salsa e o rabanete
    que lava a língua a quem faz minete
    que lava o chibo mesmo da rasca
    tira o cheiro a bacalhau da lasca
    que bebe o homem que bebe o cão
    que lava a cona e o berbigão

    Meus senhores aqui está a água
    que lava os olhos e os grelinhos
    que lava a cona e os paninhos
    que lava o sangue das grandes lutas
    que lava sérias e lava putas
    apaga o lume e o borralho
    e que lava as guelras ao caralho

    Meus senhores aqui está a água
    que rega as rosas e os manjericos
    que lava o bidé, lava penicos
    tira mau cheiro das algibeiras
    dá de beber às fressureiras
    lava a tromba a qualquer fantoche e
    lava a boca depois de um broche.

    Manuel Maria Barbosa du Bocage