A propósito...

Nas guerras de D. João I de Portugal contra João de Castela e seu filho Henrique III (crise dinástica de 1383), quando todo o Alto Minho se havia já libertado do jugo invasor, Melgaço permanecia ainda nas mãos castelhanas. D. João I, impaciente com a resistência da praça, resolve assumir o comando das tropas e sitia esta vila. Num cerco que durou dois meses, notabilizou-se então a melgacense Inês Negra, vencedora em duelo travado contra certa mulher - a Renegada - também da vila, partidária do rei intruso. Conta Duarte Nunes de Leão, na sua "Crónica de D. João I":
"Havia uma mulher muito valente, parcial dos Castelhanos, que renegara a sua pátria, pois era daqui mesmo natural. Sabendo ela que no arraial dos Portugueses estava uma sua conterrânea, ousada e valente como ela, a mandou desafiar a um combate singular. Inês Negra aceitou o repto e se dirigiu para o ponto designado, que era a meia distância do arraial e da vila. Já lá estava a "arrenegada" e o combate começou encarniçado, ferindo-se com as mãos, unhas e dentes, depois de partidas as armas de que vieram munidas. (...) A agressora ficou debaixo, e teve de retirar para a vila, corrida, ferida e quase sem cabelo."
Os Portugueses "fizeram então grande algazarra aos Castelhanos" e, no dia seguinte (4 de Março de 1388), ocuparam finalmente a praça. Inês Negra, "cercada de besteiros, estava no alto da plataforma, onde o pendão das quinas ondeava, no mastro em que na véspera se ostentava orgulhosa a bandeira de Castela, e dizia com alegria: mas vencemos-te! Tornaste ao nosso poder. És do rei de Portugal".

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