Este "jornaleiro" não fuma mais brocas!


Este post não pretende discutir nem a marcha global da marijuana, nem sequer como ela é vista pela imprensa. Apenas pego num exemplo extremo para destacar algum jornalismo que se faz por aí. Leia-se esta notícia da LUSA (com atenção ao que está a bold):

“Lisboa, 09 Mai (Lusa) - Perto de 300 pessoas marcharam hoje em Lisboa, ao som do reggae e em ambiente de festa, na Marcha Global da Marijuana, em defesa da legalização das drogas leves.
A concentração, iniciada no Largo do Rato pelas 16:00, começou com animação e dança, ao som de trompetes, saxofones, tambores e trombones, com os apoiantes empunhando tarjas com inscrições a pedir a legalização da cannabis.
A Marcha seguiu pela rua da Escola Politécnica, passando pela Praça do Príncipe Real até ao destino final no miradouro do Adamastor, onde se prevê que a festa continue pela noite dentro.
A Marcha Global da Marijuana 2009 (que já vai na quarta edição) decorre hoje em 232 cidades do mundo, entre elas Lisboa, Porto e Coimbra, com o objectivo de pedir a regulamentação, legalização e consequente descriminalização do consumo das drogas leves.
Segundo disse à Lusa Pedro Pombeiro, da organização, esta marcha tem como objectivo a legalização e regulamentação da cannabis para todas as suas utilizações, a descriminalização total do consumo por adultos e o encorajamento do estudo e pesquisa do potencial benéfico da planta “Cannabis Sativa L” para uso “industrial, social, recreativo e medicinal”.”

A bold, as informações que estão erradas. Praticamente todas. Não eram 300 pessoas (eram bastante mais, mas pronto, isto ainda está no domínio do erro aceitável). Por causa da chuva, o som não funcionou. Por isso não houve música: nem reggae, nem outra. A concentração não começou no Rato, mas no Jardim das Amoreiras. Não começou às 16.00, mas às 15.30. Não houve nem animação, nem dança. Não havia um único saxofone, tambor, trombone ou qualquer outro instrumento musical. O percurso, vá lá, está certo. A marcha decorreu em 263 e não em 232 cidades (número do ano anterior). Naquele dia, aconteceu em Lisboa, Coimbra e Braga. No Porto tinha acontecido no fim-de-semana anterior. Não houve nem nunca esteve prevista nenhuma festa “pela noite dentro”. A marcha não defendia a “descriminalização do consumo das drogas leves”, porque o consumo de drogas leves não está criminalizado em Portugal. Por fim, a organização da marcha garante que o seu porta-voz não prestou qualquer declaração à LUSA.

É obra conseguir fazer uma notícia com tantas informações e não ter praticamente nenhuma certa. Das duas uma: ou o jornalista não esteve lá e usou a notícia do ano anterior (o mais provável) ou entrou no espírito da coisa, fumou demasiada ganza e perdeu a noção da realidade (o mais compreensível). - Daniel Oliveira

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